Nos artigos anteriores, buscamos esclarecer sobre o método de realização das pesquisas em 3D. Neste, abordaremos, também sob a ótica 3D, algo intrínseco às pesquisas, apesar do tratamento superficial que recebe na observação e análise dos seus resultados, que é a apropriação dos seus resultados.
O resultado da pesquisa, ao promover uma ação, seja de comunicação, uma política pública, de preços, etc., tem uma importância para além dos números e diagnósticos que revela. Ele impacta a vida das pessoas, das empresas e do mundo institucional. Mas, neste impacto existe algo abaixo da superfície, portanto, nem sempre perceptível, que interage com a influência dos resultados. É a apropriação, o seu uso, e quem tem acesso a eles.
No que desenvolvo aqui, o exercício do direito autoral não está em questão. Porém, o excesso de restrição às informações geradas por pesquisas, faz com que os institutos e seus técnicos, bem como seus contratantes, tornem-se donos da informação e da verdade, o que nem sempre é bom para uma sociedade livre. No atual momento, até mesmo pesquisas primárias no âmbito do governo federal estão com acesso extremamente limitado ou mesmo bloqueado, sem falar nos riscos à isenção de sua realização, como recentemente noticiado sobre mudanças de metodologia na PNAD-IBGE.
Por isto, a questão do acesso o mais amplo e transparente possível aos resultados, que vai do plano amostral, à metodologia, questionário, cruzamentos, etc., torna-se, também, vital para a confiabilidade dos resultados. Claro que pesquisas empresariais (desde que não financiadas com recursos públicos) ou públicas, de valor estratégico, não se incluem neste caso. O controle social sobre a gama informações geradas pelas pesquisas de opinião e seu impacto na sociedade, são parte de uma visão da democratização da informação e da comunicação que é cada vez mais necessário face a infinidade de ferramentas de obtenção de dados (como os BigData, que serão objeto do nosso próximo artigo). Um exemplo mais fácil de se entender é o impacto das pesquisas eleitorais no comportamento do eleitor, quando mesmo sendo de interesse público e havendo regulamentação legal sobre sua divulgação, a margem para seu uso indevido é enorme, pois, financiada por recursos públicos – o fundo eleitoral, não está sob controle da sociedade, apenas dos seus contratantes e executores.
Além da transparência na sua execução, é importante tratar a informação obtida pelas pesquisas de opinião como bem público, numa visão mais alargada de democracia, com o uso aberto dos resultados, sem restrições ao acesso de dados que poderão ser consultados por qualquer organização, instituição ou mesmo pessoas que individualmente tenham necessidade do uso das informações coletadas. Ainda que isto venha a ser um processo, esta transparência cumulativa no universo das pesquisa, é uma transformação importante, que poderá ser ampliada com o passar do tempo. Num primeiro momento isto deveria se dar com todas as pesquisas de opinião financiadas com recursos públicos (exceto aquelas que fazem parte de financiamentos, como os disponibilizados pelo BNDES, FINEP, etc. para implantação, expansão ou modernização empresarial). Com o tempo este escopo vai sendo ampliado pela percepção de todos de que a sociedade e cada um dos seus entes, só tem a ganhar com a publicidade ampla destas informações.
Com o uso da internet para divulgar os resultados e análises de pesquisas de opinião (por meio de posts, blogs, portais e principalmente um amigável e aberto programa de cruzamento de dados), pode-se organizar um sistema público (não necessariamente governamental), onde diversos setores, entidades, grupos culturais de toda natureza e indivíduos interessados poderão sair da “cegueira” informacional tradicional e enxergar muito melhor o ambiente onde atuam, com ganhos para todos. Estudantes dos mais variados níveis poderão ter acesso, por exemplo na elaboração de suas teses, a informações hoje restritas a quem contrata caríssimas pesquisas ou à seletividade dos dados divulgados por institutos ou por seus clientes. Pequenos empreendedores poderão acessar pesquisas de mercado, o que, para eles, hoje é praticamente impossível de se obter e que raramente são oferecidas por suas entidades representativas. Estudiosos dos temas correlacionados, por exemplo aos 3D, Demografia, Democracia e Diversidade, também terão fontes de dados possíveis de serem manuseadas para complementar seus estudos técnicos. E até mesmo a auto-organização da sociedade poderá ser beneficiada. Aqueles jovens que hoje atuam em rede para a defesa de alguma causa ou pertençam a grupos de discussão ou ainda difundam inovações diversas e tem grande atuação na internet, mas, pouquíssima base de dados que fundamentem suas causas e suas ações, poderão, por meio do acesso aos dados de pesquisas públicas ( e num segundo momento também às privadas, por que não!?) verificar o espaço, o impacto e a repercussão de certo tema na sociedade para defesa e sucesso de suas bandeiras.
Um processo como este não é simples, nem de curto prazo, mas, com certeza, vale tentar…